TERÇA-FEIRA, 14 DE JANEIRO
Lula locuta e suscita debates
RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã, destacou em artigo publicado nas Redes semana passada:
"Importante militante política da Geração 68 sentiu o impacto do recado dado pelo presidente Luiz Lula da Silva em trecho da parte improvisada de seu discurso no ato pelos dois anos do 8 de janeiro. O trecho chamou a atenção também desta coluna, que o destacou aqui. Lula afirmou que não havia nenhum operário entre os líderes das Revoluções Russa, de 1917, e Cubana, de 1958. Que somente uma democracia é capaz de levar um torneiro mecânico como ele à Presidência"
Quando ouvi, minha primeira reação foi negativa. Sou remanescente da geração 1960...Confesso, aliás, que não me agradou o discurso de Lula naquele dia.
Gostando ou não, entretanto, acho que Lula, "coloca", aí , como se dizia antigamente, várias questões dignas de reflexão pela esquerda:
1. A questão da democracia, sempre vista pela esquerda com certa desconfiança. Será que Lula entende como “democracia” apenas o modelo ocidental de representação parlamentar?
2. A construção da democracia como aprofundamento da participação na vida pública dos vários segmentos sociais
3. A ausência de pessoas dos segmentos "subalternos" - odeio essa expressão! - nos Partidos de esquerda, mesmo revolucionários, como em 1917 e 1959 - e eu acrescentaria 1949, na China, 1930, no Brasil.
4. A valorização do operário feita por Lula, a meu juízo, importante, pelo simbolismo que trouxe à esquerda, desde MARX, é hoje insuficiente , na construção da democracia. Por que não o "negro"? Por que não "indígena"? Por que não mulher"? Por que não LGBTQIa+? Por que não deficientes físicos? Por que não minorias étnicas e religiosas...? Por que não os "batalhadores" que lutam diariamente no precariado? E os "Sem Tera e Sem Teto"...? E os idosos? Enfim, a lista dos desalojados é grande. Bourdieu que o diga.
Recado importante de Lula acabou perdido
Por RUDOLFO LAGO* do Correio da Manhã
Importante militante política da Geração 68 sentiu o impacto do recado dado pelo presidente Luiz Lula da Silva em trecho da parte improvisada de seu discurso no ato pelos dois anos do 8 de janeiro. O trecho chamou a atenção também desta coluna, que o destacou aqui. Lula afirmou que não havia nenhum operário entre os líderes das Revoluções Russa, de 1917, e Cubana, de 1958. Que somente uma democracia é capaz de levar um torneiro mecânico como ele à Presidência. A mudança pelo viés revolucionário é o cerne das posições da Geração 68 dessa militante, que é também a geração de pessoas como a presidente do banco do Brics, Dilma Rousseff, ou os ex-ministros José Dirceu e Franklin Martins. Pessoas que têm influência.
Diluído
Infelizmente, porém, aponta essa militante, o recado acabou diluído no meio das platitudes de Lula em outros trechos. Bobagens, como a fala machista em que se disse “amante da democracia” e que os homens costumam ser mais apaixonados por suas amantes.
Desperdício
Se o trecho do discurso visava passar à ala mais à esquerda do PT o recado de que o caminho de Lula é pela democracia e que, portanto, exige a construção de alianças mais amplas que conduzam a avanços pelo diálogo, a chance acabou desperdiçada no ato de quarta (8).
Falta a Lula o chamado “ministro do vai dar m…”
Em um seleto grupo de jornalistas, muitos deles integrantes importantes da comunicação do governo nos governos anteriores de Lula, as falhas do ato do 8 de janeiro foram muito debatidas. De um modo geral, prevalecia a constatação de que falta hoje ao governo estratégia clara dos caminhos a seguir. Um deles dizia que se Lula dissesse algo como disse Pelé quando afirmou que “o brasileiro não sabe votar”, haveria na equipe alguém disposto a emoldurar a frase numa placa e ostentá-la como sacada genial no Palácio do Planalto. Ao contrário dos governos anteriores, Lula não teria agora interlocutores capazes de confrontá-lo.
Ausência
Como faziam no passado nomes como os próprios Dirceu e Franklin, mas também Luiz Gushiken, Gilberto Carvalho, Ricardo Kotscho ou Luiz Dulci. Havia até muita divergência entre eles. Mas tinham a capacidade de confrontar Lula com outros pontos de vista e corrigir rumos.
Janja
Hoje, aparentemente a única pessoa no entorno de Lula com essa capacidade é sua esposa, Janja da Silva. Mas Janja não tem cargo no governo, não tem mandato eletivo. Assim, a falta de clareza a respeito do papel que exerce hoje mais atrapalha que ajuda o governo.
Papel
Um desses comunicadores, forte no PT desde a sua fundação, chegou a sugerir que talvez fosse melhor que Lula desse mesmo a Janja uma função clara. Como tinha a esposa de Fernando Henrique, Ruth Cardoso, formuladora do que levou depois ao Bolsa Família.
Legado
O programa Comunidade Solidária deixou como legado toda a política de combate à fome dos governos petistas posteriores, mesmo que o próprio PT não reconheça muito isso. Um papel parecido para Janja poderia tornar mais clara sua função no governo.